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Chegou a resenha da tão desnecessariamente polêmica adaptação de A Pequena Sereia

Halle Bailey dá vida a Ariel, a sereia que marcou tantas infâncias, que hoje é idealizada para marcar a infância de novas crianças. O talento vocal de Halle não é segredo para ninguém, inclusive recomendo seu trabalho no álbum Ungodly Hour ao lado de sua irmã, Chloe. 

Assim, o verdadeiro desafio estava na atuação, o que ela também faz com muito talento. Vale lembrar que a produção recria os oceanos, assim como a vida submarina como um todo. Isso significa recriar movimentos subaquáticos para gerar a fluidez necessária para ser natural e gracioso, um acerto enorme da produção. 

Inclusive, o medo era real, já que a Disney, também proprietária da marca Marvel, não tem entregado o melhor quando o assunto é computação gráfica (CGI). 

Agora, falando do “elefante na sala”: os animais. Criticado desde o primeiro trailer, o hyper-realismo que gerou o fracasso de O Rei Leão de 2019 foi refeito por aqui, mas cria um sentimento um pouco diferente. 

Não, eu continuo incapaz de defender o Linguado por aqui, esse não desce. Mas, Sebastião – nosso Siri que todo mundo sempre achou ser uma lagosta – e Sabidão, a gaivota icônica da animação, não ficaram o fiasco esperado. 

Sim, ainda é incômodo visto que a produção tinha, sim, a liberdade criativa de “despadronizar” os animais, quase como a reprodução cartunesca das animações, mas o resultado não repete O Rei Leão. 

O verdadeiro problema

Caso ainda não esteja claro: sim, o filme é realmente bom e recria parte da magia vista em 1989, da sua maneira. Mas, isso não significa que ele é livre de problemas.

Desta forma, enquanto a computação gráfica e efeitos foram um ponto positivo, o problema entra na personalidade de um dos personagens – se não o mais – mais icônicos do lado vilanesco da Disney: a Úrsula. 

Que Melissa McCarthy é um talento da comédia todos sabemos, zero segredos. Mas, sua Úrsula tem problemas pra quem usa como referência – e é o que estou fazendo aqui – a personagem da animação, e entre estes problemas são, principalmente, seu carisma e sua personalidade excêntrica.

Essencialmente carismática, a nova adaptação da personagem perde parte do seu lado caótico, empoderado e, quase, sensual. Mais vilã, menos “mulher”, o desmonte da personagem vem do roteiro, não necessariamente da atuação. 

Podemos identificar isso observando a música da personagem: Poor Unfortunate Souls (Pobres Corações Infelizes ou Escravos da Dor por traduções brasileiras). 

Pate da música foi cortada, literalmente retirada da nova versão, e essa parte é o momento em que Úrsula explica para Ariel como conquistar o príncipe sem sua voz: 

“Terá sua aparência, seu belo rosto
E não subestime a importância da linguagem do corpo, há!

O homem abomina tagarelas
Garota caladinha ele adora!
Se a mulher ficar falando o dia inteiro fofocando
O homem se zanga, diz adeus, e vai embora, não!

Não vá querer jogar conversa fora
Que os homens fazem tudo pra evitar
Sabe quem é mais querida? É a garota retraída!
E só as bem quietinhas vão casar”

Nos trechos, Úrsula mostra uma visão – machista – das últimas décadas do que um homem busca em uma mulher: uma pessoa passiva, que vive para ele, submissa. 

Aqui, duas interpretações podem ser feitas. A primeira ´é que a escolha de retirar essa parte traduz os dias atuais, nos quais tais características não devem ser reforçadas para o público mais jovem. 

A segunda é a narrativa da personagem: não é porque ela fala que ela está correta. Assim, o enredo poderia quebrar os argumentos da vilã e trazer uma mensagem não existem na animação, destruindo tanto a visão de Úrsula sobre as mulheres quanto dos homens.

Enfim, não aconteceu, e o roteiro quebra este momento e retira de Úrsula umas das falas mais excêntricas de toda a música: a linguagem corporal

Vale ressaltar que na animação, Úrsula dá gigantesco valor para seu corpo diferente, fora dos padrões (sereias) e estigmatizado, quase como uma mensagem velada à gordofobia, tema que não era discutido naquela época. 

Assim, retirar da personagem esse lado empoderado faz sentido para o roteiro, afinal ela nunca menciona características físicas como um ponto importante para suas motivações, mas, em contra-partida, sacrifica uma das principais características da personagem, e isso faz falta. 

Lembrando que esta é apenas uma visão sobre a personagem que ficou muito bem caracterizada visualmente na nova produção, principalmente sobre o comportamento dos polvos no fundo do mar, seus movimentos e afins: mas com pouca personalidade além da pura vilania. 

Recomendação: leve a criançada para viver – ou reviver – essa experiência nos cinemas. A Pequena Sereia é encantador, engraçado e com direito a novas música produzidas por Lin-Manuel Miranda, autor e produtor do imenso sucesso da Disney, Encanto

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