Rian Johnson é um dos diretores mais cultuados e “cool” dos anos 2000, ao lado de caras como Edgar Wright (Em Ritmo de Fuga e Scott Pilgrim), Matthew Vaughn (Kingsman e Kick Ass) e Taika Waitit (Jojo Rabbit e Thor Ragnarok) que conseguem fazer filmes divertidos mas sem perder nada na parte técnica, na visão única do projeto e acrescentar um rico subtexto. Rian consegue transforma qualquer gênero que coloca a mão em algo único. Desde de “Brick”, onde coloca camadas de discussão social em um simples filme de adolescente com um caso de assassinato, passando por “Looper”, sua ficção científica que permeia a área cinza do que certo e o que éerrado, até chegar em “Star Wars: Os Últimos Jedi”.

Este último sofrendo com alguns fãs puristas da saga, pois Rian pegou o herói perfeito, Luke Skywalker, e o transformou em algo amargurado, sem orgulho nenhum de suas glórias passadas. Além disso, usou de um niilismo ao bater na tecla de não somos especiais, e que tudo que podemos alcançar não parte de uma linhagem familiar ou de se sentir especial, indo contra tudo que Star Wars apresentou sobre ter um escolhido, o “especial one”. Ele subverteu a maior saga da história, acrescentou algo jamais imaginável. Não tinha como ser diferente no seu mais recente projeto.

“Entre Facas e Segredos” é um filme com um plot simples, o patriarca da família Thrombey, Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é encontrado morto na manhã seguinte do seu aniversário de 85 anos e a partir disso, o filme se desenrola pelo olhar dos detetives Benoit Blanc (Daniel Craig) e do Tenente Elliott (Lakeith Stanfield). Todos da família são possíveis culpados, os filhos Walt (Michael Shannon) e Linda (Jamie Lee Curtis), o genro Richard (Don Jonhson), a nora Joni (Toni Colette), o neto Ransom (Chris Evans) e a empregada Marta (Ana de Armas), pois possuem algum interesse na herança de Harlam.

A partir deste simples plot envolvendo um assassinato misterioso, Rian Johnson consegue criar um filme único, criar uma tensão por motivos que outrora eram inimagináveis para um filme deste gênero. É um estudo de personagem riquíssimo e fora do comum, não aprendemos somente sobre o protagonista, ele consegue criar camadas para todos e com tão pouco tempo de tela para cada.

Porque o estudo de personagem? O filme é montado de uma forma que podemos escolher qualquer um para seguir, mesmo tendo aparecido pouco. Com o desenrolar do roteiro, vamos descobrindo mais e mais sobre cada um, sobre a forma com que eles se relacionavam entre si e com Harlam. Rian consegue pegar um elenco estelar e tirar o máximo de cada um e dar importância para todos eles, algo de se admirar.

A forma que ele desenvolve o mistério e sua solução é sofisticada, toda construída em diálogos fortes e ricos, sem ser explicativo demais, e com uma montagem e trilha que dão o ritmo para as conversas. É um trabalho  artesanal que Rian e seu editor Bob Ducsay fazem na hora de montar a narrativa.

Outro ponto brilhante é o trabalho de Steve Yedlin, diretor de fotografia, parceiro em todos os filmes de Johnson, mostra uma versatilidade absurda. Se em “Os Últimos Jedi” é uma fotografia exuberante, com diversos planos abertos, cores absurdamente incríveis, que não se lembra da sequência final, misturando o branco com vermelho no sistema de Crait. Aqui, é algo mais contido, onde ele usa mais planos fechados para tirar o máximo das expressões dos atores, buscar o máximo de suas reações, mas sem esquecer de dar uma importância ao que acontece no fundo de cada cena.

Reforçando este ponto de arrancar o máximo dos atores, temos alguns que conseguem se sobressair neste de mar de estrelas. Don Johnson é o canastrão mor, extremamente engraçado e desprezível em cada fala. Michael Shannon nunca pareceu tão à vontade em ser um sujeito mesquinho, e olha que ele não tem nenhuma cena onde posso soltar seu vozeirão. Chris Evans saindo do traje do Capitão América, e interpretando algo tão diferente é espetacular, nós sentimos nojo só de ver a forma como ele se porta na cena, um trabalho brilhante.

Apesar do brilhantismo do elenco, as duas estrelas do filme são Daniel Craig e Ana de Armas. O britânico Craig entrega um bonachão com sotaque sulista, uma quase imitação de Frank Underwood (Kevin Spacey) em House Of Cards, engraçadissímo, o que nos faz querer vê-lo em mais papéis cômicos. Já Ana de Armas é uma revelação, já é uma estrela em plena ascensão desde Cães de Guerra e Blade Runner: 2049. Aqui ela consegue entregar uma delicadeza, demonstrar uma fragilidade somente com o olhar e com a forma como se comporta, perto dos suspeitos que fazem parte da família, é uma atuação poderosa, mesmo muito contida e feita em cima dos detalhes.

Rian Johnson e Ana De Armas

Rian Johnson é um dos diretores mais legais de se acompanha hoje em dia, independente do tema, ele adiciona camadas em suas tramas, facetas em seus personagens que nos fazem duvidar, sentir empatia, odiar e torcer a favor ou contra. É um respiro de criatividade neste mar de filmes montados por produtores, como disse anteriormente, é algo que beira o artesanal, que consegue unir um primor técnico, um elenco de peso e conhecido do grande público e criar uma história extremamente cativante para todos.

“Entre Facas e Segredo” tem um elenco blockbuster, uma trama sessão da tarde e uma qualidade técnica que outrora, só se via nos filmes “cult”. Com esse mix, ele é sem dúvida um dos melhores filmes do ano, sem sombra de dúvidas. 

Nota: 4,5/5

Deixe o seu comentário!

TOCAFITA
Somos um time cheio de energia que busca entregar sempre o melhor conteúdo pra você! Com uma equipe maravilhosa, aqui no Toca Fita nós nos divertimos com nosso trabalho, e por isso fazemos com amor. Qualidade, veracidade e empatia, sempre!