A Carta de amor de Quentin Tarantino – “Era uma vez em… Hollywood”

Sempre que se fala “É um filme de Quentin Tarantino”, pensamos em violência, diálogos verborrágicos, pés, referências a cultura Pop, mas nos esquecemos da maior características presentes em todos os seus filmes: seu amor à história do cinema. O diretor já disse diversas vezes que todos os seus filmes são um remendo de cenas feitas em outros filmes, que ele simplesmente copia seus ídolos.

Apesar deste ponto estar presente em toda sua filmografia, Tarantino ainda tinha feito uma homenagem explícita, uma ode ao que mais ama, até agora em “Era uma vez em … Hollywood”. Em 2 horas e 40 minutos de filme vemos seu lado mais romântico, uma faceta delicada do roteirista/diretor apaixonado por um pedaço da história do cinema, precisamente o final dos anos 60, onde ele gostaria de ter vivenciado na vida adulta. Mas o principal, ele quer que nós tenhamos este sentimento, e que acabemos o filme querendo buscar mais sobre essa Hollywood, que até certo ponto é inocente comparada com o que viria na década de 70 e 80.

Inocência que é representada pela figura de Sharon Tate, interpretada de forma belíssima por Margot Robbie, que infelizmente teve a vida interrompida pelo culto de Charles Manson. Sua presença permeia toda a trama, mas não como personagem ativo e que move a trama, mas como um anjo que está lá abençoando a Hollywood dos anos 60. Mas ao mesmo tempo ele vai dando sinais de que o filme vai chegar no momento do atentado que tirou a vida da atriz.

O principal ponto que caracteriza esse filme como o mais bonito de Tarantino, é a dupla principal interpretada por Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, os amigos Rick Dalton e Cliff Booth. O primeiro é uma estrela decadente dos filmes e séries de faroeste, enquanto o outro é o seu dublê “faz tudo”.

O longa é basicamente nós vendo os dois andando por Hollywood dos anos 60, demonstrando a camaradagem entre os dois enquanto conhecemos o que os rodeia. Tarantino utiliza todos os recursos possíveis para nos levar para a época, e o principal é o uso das músicas, como de propagandas de rádio que ouvimos enquanto vemos Cliff dirige por Los Angeles em meio aos hippies e as estrelas de cinema.

Em muitos momentos o filme parece não ir para lugar nenhum, mesmo sabendo que em algum momento chegará na noite do atentado contra Sharon Tate, Tarantino cria um roteiro estranho, sem os pontos de viradas característicos. Isso torna a experiência diferente, e é o que diretor quer, ele sabe que é uma estrutura diferente e sabe onde que a audiência quer chegar, mas funciona como ele falasse “Vocês assistirão minha homenagem para a minha era de Ouro do cinema, quem sabe no final do filme eu entrego algo para vocês.”

Por isso, por quase 2 horas e 10/15 minutos, não fazemos ideia do que acontecerá no final, mas aproveitamos e vemos dois amigos caminhando por um período tão importante da história da cultura pop e não sentimos o tempo passar. Em muitos outros filmes de Tarantino, a duração pode incomodar, mas aqui é o contrário, a cada minuto você quer passar mais dois minutos que seja com os personagens e vivenciando aquilo, por incrível que pareça, o diretor nunca foi teve a mão tão leve e sutil na direção.

“Era uma vez em…Hollywood” é o filme mais pessoal de Tarantino, onde vemos ele em seu estágio mais frágil, mas, ao mesmo tempo, o mais confiante possível, por saber de tudo que ele está mostrando. Pode-se dizer, que este é o filme que ele nasceu pra fazer, infelizmente foi apenas no seu nono filme, e de acordo com o próprio, só teremos mais um. Uma carta de amor de um diretor apaixonado e que quer outras pessoas entendam e compartilhem dessa paixão pela história de um período que moldou sua visão sobre cinema.

PS: Podem ficar tranquilos, Tarantino mais uma vez entrega uma sequência de extrema violência cômica, ninguém sairá decepcionado.

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