CRÍTICA: TRAMA FANTASMA

Último filme de Daniel Day Lewis é um estudo sobre a eterna dependência dos ser humano em ter alguém ao seu lado.

O cinema que PTA está acostumado a fazer gira em torno de personagens com o “sonho americano” de conquistar tudo, e ele foca nas falhas que levam a decadência deste modelo. Mas em “Trama Fantasma” ele muda seu estilo e aposta nas relações parasitárias que os seres humanos desenvolvem, e para isso, decidiu sair de sua “zona de conforto”. Ele nos leva até a Inglaterra da década de 50 para contar a história de um estilista narcisista cheio de rituais procedurais e uma jovem garçonete que não tinha muitas aspirações na vida até conhece-lo.

É um filme sobre consequências, sobre como os personagens reagem aos fatos que ocorrem ao seu redor. PTA vai desenvolvendo o enredo do longa focado na necessidade que os personagens tem de ter alguém ao lado, seja para apoiar ou para menosprezar. É um estudo de personagem simplesmente magnifico, e ele não tem medo de fazer suas sequências mais longas para apresentar certas manias que cada personagem tem. O principal fator para ele seguir esse linha é o fato de ter Daniel Day Lewis como protagonista.

É o último filme de Daniel Day Lewis (pelo menos foi o que o ator disse), e como não poderia ser diferente, é um show de atuação. Diferente da maioria de seus trabalhos, em que ele entrega performances poderosas, viris e extremamente explosivas, aqui vemos ele trabalhar na sutileza e delicadeza dos pequenos gestos. Ele constitui Reynolds Woodcock em cima das manias que o personagem tem, é uma atuação tão sutil que qualquer um poder confundi-la com a forma que o ator age na vida real. É tão impressionante que o filme parece ser o dia a dia de uma pessoa com TOC.

É um trabalho tão incrível, que mesmo com uma atuação primorosa, ele abre espaço para os coadjuvantes surgirem, brilharem e também ter sua importância. O filme é centrado em Woodcock, mas também conseguimos ver a evolução de Alma (Vicky Krieps) ao seu lado. Tem momentos que o filme se vira para ela, deixando o protagonista de lado e focando em seus questionamentos e incertezas, nos fazendo criar empatia com ela e transformando Woodcock em um pseudo vilão.

Na questão técnica faltam adjetivos para o que PTA nos mostra. Ele trabalhou como o próprio diretor de fotografia e entregou um trabalho lindíssimo, com cores secas e envelhecidas, além de planos longos extremamente detalhados. Lado a lado, tem o design de produção e os figurinos, que executam o papel de nos transportar para a Inglaterra dos anos 50 de um forma sutil, e como na teoria é um filme de moda, tem uma preocupação única com os vestidos.

Mas o que mais impressiona é a trilha sonora de Jonny Greenwood. O guitarrista do Radiohead transita entre o clássico e o estranho, utilizando o violino e o violoncelo de forma magistral. Sua trilha segue o estado emocional de Woodcock, hora tranquila, hora agitada e nervosa, e novamente tranquila. Sua trilha serve de complemento para a construção do personagem, funcionando com um adicional indispensável na criação do clima do filme.

PTA flerta com diversos gêneros, incluindo o terror psicológico, e entrega seu filme visualmente mais belo e completamente oposto de sua filmografia. Ele continua apostando no estudo de personagem e evolução até o ápice e depois na decadência que se instala sobre ele, mas aqui ele utiliza o romance, a relação de necessidade de dependência que o ser humano para mostrar essa queda. Paul Thomas Anderson foi extremamente feliz em escolher essa história para contar, entregar mais um personagem memorável para o incrível Daniel Day Lewis em seu último filme.

Nota; 4,5/5

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