CRÍTICA: THE POST – A GUERRA SECRETA

O ano é 1972, mas como se parece com 2018, e Spielberg deixa isso extremamente explícito.

Estamos vivendo tempos em que as mulheres finalmente estão conseguindo ter uma voz ativa que lhes é de direito, mas quando assistimos um filme como “The Post”, vemos que demoramos muito para evoluir até esse momento. O filme se passa em 1972, e é repleto de situações envolvendo a personagem de Meryl Streep, que conseguimos conciliar com os dias de hoje. Além disso, vemos a imprensa sendo tratada como inimigo do Estado por querer falar a verdade, outro fato que estamos vivendo. O ano é 2018, mas poderia ser facilmente 1972.

“The Post – A Guerra Secreta” é um filme que conta como o jornal Washington Post se tornou um gigante do mercado após publicarem documentos sobre a Guerra do Vietnã. Orquestrado por Steven Spielberg, ele comanda Meryl Streep como Kat Graham, primeira presidente mulher do jornal, que luta uma batalha sozinha para manter o prestígio do jornal perante os investidores e ao lado de Tom Hanks como Ben Bradlee, editor chefe do jornal, principal responsável por publicar os textos, indo contra a maioria dos outros jornais. Além deles, Bob Odenkirk, Matthew Rhys, Sarah Paulson, Carrie Coon, Michael Stuhlbarg, David Cross e Jesse Plemons completam o elenco estrelado do longa.

Spielberg deixa claro desde o início qual sua intenção de ter feito esse filme: Mostrar o poder de uma mulher na frente de uma grande empresa constituída por homens e reforçar o papel que a imprensa tem, que é fazer noticias para os governados e não para o governo. Ele traz essas discussões de 40 anos atrás de volta para fazermos um paralelo com os dias de hoje, e vermos que pouca coisa mudou.

O diretor não tem medo de sempre colocar Kat Graham (Streep) no centro dos planos e rodeada por homens, diminuindo a personagem, para poder passar um ar de fragilidade e impotência, mesmo ela sendo a pessoa com maior poder na sala. É um recurso fantástico, além de criarmos empatia com a personagem, sentimos repulsa pelas pessoas que comandam esse meio. É um Spielberg deixando claro qual batalha que está sendo travada e quem são vilões.

Do outro lado vemos o núcleo da redação do jornal, onde vemos Ben Bradlee comandar com ferocidade e entusiasmo o “Washington Post” e lutar pela liberdade de expressão. Se Kat Graham sofre em seu meio, Bradlee é quem busca os atritos e desafios, além de sempre estar por cima de todos, não de forma arrogante, mas como um líder que precisa manter a ordem. Como ele está preocupado com a parte jornalística e não com o financeiro, vemos ele Kat tendo embates, e muitos com ele sobressaindo sobre a chefe, muito por causa da insegurança que ela demonstra.

Um fato que Spielberg coloca magistralmente é a sequencia de fatos que culminam na publicação dos documentos. Começando com Ben Bagdikian (Odenkirk) pegando os documentos em meio a uma censura do governo americano, repassando para Bradlee, que assim cobra Graham sobre publicar ou não os textos. É nesse ponto que vemos a personagem se soltar e exercer sua função de líder de um jornal, que tem como principal função publicar a verdade independente da consequência. Para deixar a cena mais icônica ele filma a personagem de baixo, dando um ar maior de superioridade para ela, e vemos Meryl Streep apresentar todo seu talento três vezes vencedora do Oscar.

É simplesmente brilhante como ele desenvolve o arco de Kat Graham, indo de um personagem frágil, insegura e omissa, para um líder implacável e respeitada. Spielberg diminui tanto a personagem no início do longa, que causa certo desconforto pelas situações que ela é colocada, principalmente quando vemos um Ben Bradlee cheio de confiança e imparável. É inegável o tato do diretor para contar a trajetória dessa personagem pelo caminho mais difícil.

O filme é sobre uma tentativa do governo de encobrir seus atos por meio da censura, mas Spielberg transforma em uma luta de classes e em um desenvolvimento do poder feminino na busca pelo reconhecimento. É um filme poderoso, que conversa com os dias de hoje, além de ser extremamente necessário para servir de exemplo sobre o poder que o jornalismo tem perante ao governo e a responsabilidade com o público. É um Steven Spielberg voltando a ser urgente depois de muito tempo.

Nota: 4,5/5

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