CRÍTICA: 120 BATIMENTOS POR MINUTO

Magnífico drama francês situado nos anos 90 aborda temas recorrentes no mundo de hoje.

Após a epidemia da Aids atingir o mundo no final dos anos 80 e início dos anos 90, o grupo ativista Act Up Paris entrou em conflito com o governo e com grupos farmacêuticos para liberação de novos medicamentos para evitar mais mortes. Enquanto isso o longa foca na história de Sean (Nahuel Pérez Biscayart), um jovem que é soropositivo desde os 16 anos e tenta manter uma vida normal aliada ao tratamento da doença.
120 BPM é um extremamente delicado, mas intenso e pesado na hora de mostrar as causas e consequências da doença, e isso se dá pela atuação do elenco, que consegue passar toda a urgência do filme. Por ser um cinema europeu, o longa não tem amarras e impedimentos para tratar de forma explícita os conflitos e os momentos de alegrias dos personagens, o diretor Robin Campillo coloca os atores sempre no limite.
Campillo sabe ambientar perfeitamente bem o filme nos anos 90, seja no figurino, como na construções dos cenários. O ponto alto dessa imersão que ele nos coloca são nas transições feitas em cenas de baladas, é de um primor técnico e de uma beleza única. Sem entrar em detalhes da trama, uma sequência em especial é magnífica. 
Ele inicia a cena de uma festa, com ritmo acelerado graças a música, e quando ela começa a perder ritmo ele vai fechando o plano e fechando, dando ênfase na poeira levantada nos movimentos de dança, até eles se tornarem uma representação celular da infecção da célula pelo vírus HIV. Ele é explícito até o fundo, sem medo de ser uma cartilha contra a doença.
O filme se assemelha a um documentário, até mesmo a uma biografia dos ativistas, por causa da riqueza de detalhes que se preza a mostrar e contar. Ele não se preocupa se vai ficar parado em um diálogo ininterruptos de pelo menos cinco minutos para apresentar dados técnicos de pesquisas sobre a doença, o funcionamento dos medicamentos, ou o histórico dos personagens que tiveram ou não contato com pacientes soropositivos.
120 BPM é um chamado de urgência para uma doença que está ai a pelo menos 30 anos, e ainda continua a assolar diversas pessoas, muitas delas por falta de informação. Hoje em dia é muito fácil ter acesso à algum método de prevenção, mas sempre tem alguma faixa de pessoas que não, e o filme deixa isso claro, não defendendo apenas os heterossexuais ou homo afetivos, mas também os mendigos, prostitutas, drogados. Como eles afirmam no filme, “Eu também quero que você viva”, independente do seu papel na sociedade você merece ter esse direito.
Infelizmente ainda vivemos em um país com mentalidade fechada para filmes como esse, e possivelmente ficará pouco tempo em cartaz, isso se achar alguma sessão na sua cidade, mas faça o esforço. É um belíssimo filme que mistura um ativismo necessário, com a esperança na busca improvável de um amor sem preconceitos e como a aceitação pode facilitar tudo na vida. “120 batimentos por minuto” é uma ode a busca pela felicidade e pelo prazer de viver.

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