CRÍTICA: “EM RITMO DE FUGA”

Edgar Wright atinge seu ápice ao conciliar diversos gêneros a sua particular e irreverente visão de como se fazer um filme.

Ao ver o nome do longa, as primeiras coisas que vem a cabeça são: parece a música do Silvio Santos “ritmo, em ritmo de fuga”, ou “lá vem as traduções bizarras para o português”. O nome original do filme é “Baby Driver”, é um excelente nome, cool, que pega fácil, mas “Em ritmo de fuga”, é a tradução exata para o que o filme propõe logo em seus 5 primeiros minutos, e entrega ao final de duas horas. Cenas intensas de fuga e perseguição de carros que são conduzidas pelas músicas, todas elas escolhidas a dedo por Edgar Wright.
Com um elenco estelar que conta com Jamie Foxx, Jon Hamm, Ansel Elgort, Kevin Spacey, Wright conta a história de Baby (Ansel), um jovem motorista que sofreu um acidente quando criança e sofre de Tinnitus, um zumbido ininterrupto no ouvido, que o leva a ficar com um fone ouvindo música praticamente o tempo todo. Após perder os pais nessa tragédia, ele começou a trabalhar para Doc (Spacey), como seu piloto de fuga em assaltos a banco. Mas ele começa a repensar sua carreira  no crime, após conhecer Debora (Lily James), uma garçonete tão apaixonada por música quanto ele .

Como Edgar Wright é o clássico diretor autoral, escrevendo e dirigindo seus filmes, é visível que cada cena já foi pensada em quanto escrevia o roteiro, e digamos que isso já é uma característica sua desde seu primeiro longa conhecido, “Todo Mundo Quase Morto”, mais especificamente a cena de luta dentro do Winchester. Aqui não é diferente, e se era possível refinar ainda mais essa técnica, ele acrescenta música a composição de cada cena. O ritmo do filme é ditado pela trilha escolhida por ele, desde os primeiros 6 minutos (que foram disponibilizados online), que a cena tem a duração da música, e acelera as ações quando a música faz o mesmo.

Além disso, ele é também conhecido por desconstruir gêneros, cada um de seus filmes tem um específico. filmes com zumbis, buddy cop, super heróis, e até mesmo Sci-fi de invasão alienígena. Aqui ele resolve mesclar, homenagear, desconstruir e repensar diversas categorias em um só longa, um exercício para um cinéfilo pegar todas as inspirações. Perseguições, assaltos, comédias musicais e romances, são algumas das inspirações, e sem ser piegas em momento algum e sempre dando sua assinatura a cada frame. Em diversos momentos, é fácil de notar cenas e diálogos que foram inspirados em clássicos desses estilos, mas sem cair no erro do filme ser uma grande homenagem e perder sua identidade.

“Em ritmo de fuga” é o filme mais “comercial” de Edgar Wright, pelo elenco e por ter um narrativa simples, mas é diferente da maioria dos longas de ação e blockbusters convencionais. Edgar conduz o longa em um leveza, sem amarras de estúdio e produtores, dando liberdade aos atores de improvisar em cima de seus diálogos quase Tarantinescos, talvez por isso que, ao lado de Wes Anderson, é o diretor que 90% de Hollywood quer trabalhar e não cansa de elogiar. Além disso, repleto de participações especiais, algumas bem claras, como Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers, e outras mais escondidas, como Big Boi do Outkast e Killer Mike do Run The Jewels.

Mesmo conhecido pelo público mais entusiasta pelo cinema, ou pelos fãs de quadrinhos, por causa de “Scott Pilgrim contra o mundo”, agora com “Em Ritmo de fuga” que ele vai ganhar o devido e atrasado reconhecimento do grande público. Uma experiência única, de um longa de ação, repleto de possíveis clichês, mas original e ambicioso em sua montagem toda feita em cima das 30 músicas. Edgar Wright dá uma aula de como um diretor pode deixar sua identidade em todo o longa, sem restringir a um nicho do público.

Nota: 5/5

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