CRÍTICA – GUARDIÕES DA GALÁXIA VOLUME 2

James Gunn faz o filme mais pessoal e emotivo do Marvel studios, mas sem esquecer da diversão e ação frenética do primeiro filme

Antes do primeiro filme chegar aos cinemas, todos os filmes de origem de super heróis seguiam uma linha. Ganhar os poderes, relutar na hora de se tornar um herói, um desafio que o faz repensar na escolha e finalmente aceitar seus poderes e com um apoio emocional vencer o vilão. E quando o primeiro longa dos Guardiões foi lançado, nos foi mostrado 5 bandidos, que por um acaso acabaram na mesma prisão, e simplesmente por causa de dinheiro de uma provável recompensa e um inimigo em comum se tornaram um grupo de heróis improváveis, subvertendo todo o gênero.

Quatro anos depois eles retornam para novamente corromper um gênero que parece estar fadado ao mesmo. Filmes sequência tem a característica de aumentar o nível da ameaça, baseado nas consequências do primeiro filme. De uma certa forma aqui o vilão atinge um nível planetário, mas que serve apenas como plano de fundo para as verdadeiras ameaças, os verdadeiros vilões: Eles mesmos e suas convicções. Um exímio exercício de auto conhecimento dos Guardiões, executado de forma segura e contida quando necessário, por James Gunn.

Após salvar a galáxia de Ronan, o Acusador, Peter Quill/Senhor das Estrelas (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Rocky (Bradley Cooper) e Baby Groot (Vin Diesel), se tornaram heróis, e passaram a cobrar pelos seus serviços me prol do universo. A pedido dos soberanos, povo místico liderado por Ayesha (Elizabeth Debicki), eles tem que derrotar um mostro que ameaçava esse povo, e como recompensa liberar Nebulosa (Karen Gillian) e levá-la para a Tropa Nova. Mas nesse percurso, Rocky rouba os soberanos, levando o grupo à uma fuga mal sucedida de seu planeta, e acabem sendo salvos por Ego (Kurt Russel), pai de Peter Quill, e sua acompanhante Mantis (Pom Klementieff).

No primeiro filme fomos apresentados à esse grupo de outsiders de uma forma colorida, nostálgica e despretensiosa, revertendo tudo sobre os filmes com super heróis. Nesse segundo tudo isso é elevado a décima potência, bem mais colorido e psicodélico (pegando o que deu certo em Dr Estranho), indo mais fundo ainda na trilha sonora que embalou os anos 70 e 80, e foi um metralhadora de piadas. Mesmo sendo classificação 12 anos, tem diversos termos de duplo sentido e palavrões substituídos por palavras de quase a mesma pronuncia, dando um excelente ritmo para as brincadeiras. Se alguns filmes usam o humor para quebrar o clima pesado, aqui vemos o contrário, são as cenas de maior reflexão e diálogo sérios que dão o respiro necessário entre uma piada e outra.

Mas como foi dito acima, o que realmente importa são as discussões pessoais do personagens principais, com exceção de Baby Groot, que está ali apenas assistindo tudo com sua inocência e roubando a cena sempre que aparece. Foi um filme para amarrar as pontas deixadas no primeiro, e entendermos melhor os dramas que levaram os personagens a formar o grupo. Entendendo o real motivo do ódio mútuo entre Gamora e Nebulosa, de um forma inesperada, trazendo humanidade para a pseudo vilã, desconstruindo toda a sua imagem feita no primeiro longa. Drax indo mais profundo na perda de seus familiares, principalmente pela sua dinâmica com Mantis, que consegue ler sentimentos, e trazendo as melhores cenas.

Mas o foco principal gira em torno de Rocky, Peter Quill, Yondu (Michael Rooker) e Ego. James Gunn consegue abordar uma dinâmica de pai e filho, monstro e criador, magistralmente. Rocky já foi o personagem mais dramático do primeiro, por não entender seu propósito e o que ele realmente é, e da mesma forma funciona com Yondu nesse filme. Mostrado como mais um pseudo vilão, aqui vemos ele se quebrando e se vendo em Rocky, e com isso repensando sua importância com Quill. Que por outra lado, se vê deslumbrado pelo novo e acaba esquecendo o responsável por ter moldado quem é o Senhor das Estrelas.

Ego funciona como uma alegoria para cada um dos principais abdicarem de suas “cascas” criadas, esquecerem do seu Ego e aceitarem o que eles se tornaram. É aquele velho caso de precisar “tomar um tapa na cara” para crescer e aprender. É um filme extremamente introspectivo em meio a milhões de efeitos e piadas, diferente de alguns outros que buscam colocar de forma explícita os questionamentos, aqui vemos nas entrelinhas a evolução de cada discussão e dos personagens a determinadas situações que são colocados.

A trilha sonora entra nesse mesmo conceito e consegue ser ainda mais importante e impactante que no primeiro filme. Basicamente cada música representa os sentimentos que estão sendo mostrados em tela. James Gunn coloca um trecho específico para isso, como “The Chain” do Fleetwood Mac, que é dividida em duas partes, uma falando sobre separação e outra sobre manter os laços como correntes, e ela entra no filme nos dois momentos em que ocorrem brigas entre eles e em um momento de reconciliação. É como se a trilha fosse um ator interpretando diversos personagens dentro do filme, e aparecendo em pontos essenciais.

O principal mérito do filme é que ele vai contra tudo que a Marvel já fez, não faz ligação com nada e nem dá brecha para uma sequência. Ele simplesmente é a parte que falta no primeiro, transformando o Guardiões da Galáxia em uma obra de 4 horas. Claro que tem vários easter eggs, participações e cenas pós créditos que dão uma direção para novos filmes e arcos, mas ele cumpre seu papel de ser uma obra de continuação e por finalizar o arco de todos os personagens apresentados no primeiro longa, e também nesse segundo. Se James Gunn já teve liberdade nesse, imagina no Vol.3, em que ele não terá nenhuma ponta solta, nenhuma história de origem para revisitar ou traumas do passado dos personagens.

Nota: 4,5/5

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